“Xeique”, forma registrada em todos os principais dicionários da língua portuguesa, é o mesmo que xeque ou sheik. Apesar de todas elas serem registradas no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, a última é considerada estrangeirismo. E, apesar de o Manual de Comunicação do Senado recomendar a forma “xeique”, os brasileiros, sempre entusiastas da língua de Shakespeare, que eles nunca leram, preferem “sheik”, mesmo. Assim é que a palavra ganhou as redes sociais para alcunhar a ex-primeira dama da nação, que já foi Micheque (no caso Queiroz), depois Micash (quando vieram à tona os gastos no cartão corporativo), e que agora é Miss Sheik, por conta das joias dadas por um tal Mohammed bin Salman, que, além de príncipe herdeiro da Arábia Saudita, é também vice-primeiro-ministro, ministro da Defesa e presidente do Conselho de Assuntos Econômicos e de Desenvolvimento. Não é pra qualquer um, não! Ele ainda é chefe da corte real da Casa de Saud, e não pensem que isso seja algum hospital ou plano de assistência médica: trata-se da dinastia no poder desde a criação do país, em 1932. Só faltou mesmo ser cambista de ingresso do circo romano. Ou, vá lá, do Estádio Internacional Rei Fahd, em Riade.
Há muita confusão entre termos como “emir”, “califa”, “sultão”, “vizir” e “xeique”, mas como os dicionários não parecem ser a melhor fonte para esclarecer essas nuances, será mais prudente não nos aprofundarmos nisso por aqui. Para nosso objetivo, basta notar que qualquer uma delas serviria, em princípio, e que a escolha por “xeique” foi apenas pelo aspecto sonoro que possibilita o jogo de palavras.
Como vimos, “xeique” e “xeque” significam a mesma coisa, e esse “xeque” não deve ser confundido com “cheque”, que vem do inglês to check, “inspecionar, conferir, verificar”, donde nos vem o simpático “checar”, e que, no nosso caso, se refere a outro escândalo da mesma família. “Xeque” é a palavra que designa o ataque ao rei no jogo de xadrez, e portanto é a mesma da expressão “xeque-mate”, do persa xāh māt, que quer dizer “o rei está morto”. A palavra vem do persa “xá”, denominação atribuída aos antigos monarcas iranianos, e também não deve ser confundida com “chá”, a qual, por sua vez, vem do mandarim. Também não façam associações espúrias entre a expressão persa e o nosso “chá mate”. Esse mate vem do espanhol mate, que no século XVI designava uma “cabaça vazia para vários usos domésticos, particularmente, para tomar erva-mate”, derivada por sua vez do quíchua mati, que quer dizer “cabacinha”. A erva em questão é a Ilex paraguariensis (ao pé da letra, o “azevinho paraguaio”), que Humberto Gessinger canta na canção de mesmo nome, no disco Simples de Coração, de 1995.
Ah, também não confundir o xeique ou o sheik com o shake de milk-shake. Essa já é uma bebida completamente outra, e vem, é claro, do inglês to shake, "agitar, sacudir, tremer", e por aí afora. Quanto ao nome Shakespeare, esse sim vem de shake speare, algo como o “brande lança”, provavelmente o apelido de algum antigo guerreiro bretão.
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